Anjo
Era uma tarde chuvosa, estava a caminho de Petrópolis onde iria passar alguns dias para sair da correria que é a vida no Rio de Janeiro.
Estava frio, e a chuva relaxava, era uma viagem perfeita, um cenário inspirador.
Fiquei encantado com a paisagem, árvores de variadas formas, flores de diversas cores e o cheirinho de terra molhada.
E num cenário assim que me deparo com uma mulher linda, brincando na chuva, lembro-me exatamente de sua fisionomia:
Tinha pele branca, feito neve, cabelos longos e negros, traços delicados, olhos claros como o céu, num vestido longo e branco, que camuflava com sua pele.
A imagem daquela mulher me hipnotizava, cheguei a pensar em parar o carro e ir até ela, mas parecia tão surreal, então resolvi seguir viagem.
Estava próximo ao meu destino, fazia aproximadamente 1 hora que estava dirigindo e a imagem daquela mulher não me saia da memória.
Quando cheguei à fazenda tudo que queria era tomar algo quente e sentar perto da lareira, pois a chuva não parava e estava cada vez mais frio.
Entre a terceira e a quarta taça de vinho adormeci e a imagem daquela mulher tomou conta dos meus sonhos.
Despertei com a Liz dos raios de sol no meu rosto. Tinha dormido na sala, entre o sofá e a mesa de centro.
Levantei meio atordoado, subi as escadas e fui até meu quarto tomar um banho e me trocar.
O dia estava lindo, o céu estava limpo, os pássaros cantavam.
Fui até a cozinha, peguei um copo de suco e um jornal e segui em direção ao lago.
Encostado em uma árvore li a manchete do jornal e as paginas de economia.
Algum tempo depois me levante, abandonei o jornal e o copo vazio ao lado da árvore e fui ao celeiro em busca de um cavalo.
Ao chegar ao celeiro, encontrei com o filho de um dos empregados da casa, um menino muito simpático que celou o cavalo rapidamente.
Sai. Cavalguei até uma cachoeira que havia na fazenda.Era a primeira vez que ia até lá, havia comprado a fazenda há alguns meses.
A cachoeira era linda, água cristalina.
Sentei-me encostado em uma pedra e fiquei apreciando a paisagem.
Algum tempo depois, quando pensava em voltar para o almoço, ouvi uma melodia suave, o som de um violino.
Deixei-me guiar, até que avistei uma linda mulher, era ela quem tocava o violino.
Aproximei-me e sentei ao seu lado. Ao olhas sua face percebi que era ela aquele anjo que a havia visto brincando na chuva.
Perguntei sei nome. Ela abriu um sorriso e continuou a tocar.
Permaneci ao lado dela a tarde inteira, sem dizer uma única apalavra, só ouvindo-a tocar.
Quando estava quase anoitecendo, ela levantou-se, beijou minha face e saiu, desaparecendo entre as árvores.
Voltei à cachoeira, peguei o cavalo e voltei para a casa. Ao chegar, deixei o cavalo solto no celeiro e caminhei até a casa.
Ao entrar, fui até a cozinha, comi algo qualquer coisa que achei na geladeira, subi ao meu quarto, tomei banho e fui dormir.
Durante os sete dias que passei na fazenda segui o mesmo itinerário, passava o dia escutando aquele anjo tocar, já que não dizia uma única palavra.
No oitavo dia quando teria que voltar para o Rio, fui até a cachoeira, mesmo que não houvesse tempo de ouvi-la tocar, queria vê-la, pela ultima vez.
Não precisei ir alem da cachoeira, quando cheguei ela estava encostada, precisamente na mesma árvore que e havia encostado na primeira vez que fui até lá.
Ela, dessa vez sem o violino, segurou em minhas mãos e levou-me até o outro lado da cachoeira, onde subimos até a queda d’água.
Ao chegarmos, ela tirou de sua bolsa uma câmera e começou a fotografar a paisagem linda que admirávamos lá de cima.
Ela então se virou de costas para me fotografar, e ao dar um passo para trás, escorregou e caiu do alto da cachoeira.
Fiquei sem reação, tentei segura-lá, só consegui agarrar a alça de sua bolsa, que arrebentou.
Desci. Joguei sua bolsa próximo as pedras e pulei na água para salva-lá, mas quando a alcancei vi que estava morta, tinha batido a cabeça nas pedras.
Chamei o resgate, a policia, tudo que me veio a mente, sentei em uma pedra e coloquei-me a chorar.
Em pouco tempo a policia e o resgate chegaram, Ela como já estava sem vida, foi levada para o IML, para que a família fosse reconhecer o corpo.
Continuei com os policiais acompanhando a pericia, que concluiu que realmente havia sido um acidente.
Passados dois dias, o corpo ainda não havia sido identificado, iria ser enterrada como indigente. Eu ainda não havia conseguido voltar para o Rio.
Quando fiquei sabendo da situação, não pensei duas vezes, chamei um empregado para dirigir, pois não estava em condições, e fui para o Rio .
Ela foi cremada, e em vez de guardar suas cinzas, decidi que o correto seria joga – lá na cachoeira.
Ao chegar lá, joguei suas cinzas e ao caminhar aos arredores da cachoeira avistei sua bolsa, que havia uma pequena caderneta, que só havia escrita na primeira folha. Lá ela contava sobre a primeira vez que me viu, próximo a cachoeira e no final do relato estava escrito seu nome. Julia.
Recompus-me, juntei a caderneta e a bolsa; e voltei para a fazenda.
Quando me aproximava da casa, começou a chover, entrei no meu carro rapidamente e segui para o Rio.
No meio da viagem, exatamente no mesmo lugar vejo a imagem daquele anjo brincando na chuva.
E o espírito daquele anjo que se chamava Julia e que nunca ouvi a voz, me acompanhou por toda minha vida.
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